Conflito da imagem corporal
Após cirurgia bariátrica
Impacto psicológico da obesidade
Podemos definir Obesidade como uma doença, na qual o excesso de gordura corporal acumulada atinge semelhantes proporções que afetam gravemente a saúde. Esta doença crónica, frequentemente associada à ameaça de complicações graves que interferem na qualidade de vida da pessoa, além de impactos físicos, ocasiona um impacto psicológico que pode traduzir-se em distúrbios da imagem corporal, baixa autoestima, ansiedade, depressão e, por sua vez, refletir-se com efeito negativo, ao nível da dimensão social, no que respeita às relações interpessoais e, até, na vida profissional. Por outro lado, a pressão social na construção de um padrão de beleza com uma procura pela magreza, quase inalcançável para a maioria das pessoas, e uma espécie de estigma criado em torno da obesidade transformam-se numa situação de constante insatisfação pessoal.
Cirurgia bariátrica, saúde física e psicológica
A imagem corporal é um constructo que envolve diferentes aspetos cognitivos e refere-se à perceção e sentimento que o indivíduo tem em relação ao seu corpo. Esta autoimagem corporal, ou a distorção que a pessoa tem da mesma, promove, geralmente, um sentimento de rejeição, real ou imaginário, que se traduz numa insatisfação com o seu autoconceito.
Assim, a procura por tratamentos de emagrecimento tenta, muitas vezes, dar resposta à necessidade de recuperação da saúde física, mas também psicológica e social, uma vez que uma perda de peso significativa acabará por ser impactante, por exemplo, na alteração da perceção da imagem corporal e, consequentemente, na autoestima da pessoa.
Hoje em dia, para o controle da obesidade estão disponíveis diversos tratamentos: dietas, programas de atividade física, medicamentos e psicoterapia. No entanto, a cirurgia bariátrica tem sido considerada a forma mais eficaz no emagrecimento e no controle das comorbilidades desta doença.
Perda de peso, tempo e acomodação da imagem corporal
A cirurgia bariátrica origina elevadas perdas de peso e diversas mudanças nos contornos corporais. Contudo, essas transformações nem sempre acompanham a imagem corporal, uma vez que as mudanças psicológicas podem exigir um tempo maior de elaboração simbólica. A dimensão psicológica assume relevância, ainda que não esteja diretamente relacionada com a percentagem de perda de peso perdida, pelo papel que desempenha na construção da imagem, fazendo, por exemplo, persistir uma perceção de imagem corporal de obeso, mesmo quando a perda de peso é significativa.
A célere perda de peso, após a cirurgia bariátrica, pode, em simultâneo, ajudar a recuperar a autoestima e causar insatisfação com a imagem corporal, seja pela inadequação da reestruturação percetiva ou pelas consequências diretas da própria cirurgia como, por exemplo, a flacidez ou excesso de pele, ou o simples facto de não reconhecerem a sua “imagem refletida no espelho”. A pessoa que perdeu grandes quantidades de peso de forma acelerada retém em si uma imagem de obeso que desaparecerá à medida que a perda de peso vai sendo elaborada com o tempo.
Um novo corpo, uma nova imagem e a construção da autoestima
Deste modo, a “acomodação” da imagem corporal após a cirurgia bariátrica deverá seguir determinadas etapas que passarão, inicialmente, pela perceção visual e sensorial da transformação física. De seguida, há que referir alterações na forma como a pessoa pensa e experiencia o seu “novo corpo”, ou seja, mudanças cognitivas e comportamentais. Além de mudanças cognitivas, mudanças emocionais também deverão integrar este processo de adaptação. Trata-se das mudanças relacionadas com as alterações do autoconceito e autoestima. Finalmente, não devemos negligenciar a ocorrência de mudanças comportamentais se partirmos do pressuposto de que as alterações anteriormente descritas deverão, certamente, influenciar a forma como os indivíduos se envolverão de forma mais comprometida e empoderada ao nível das suas interações, influenciando as relações sociais.