O espaço psicoterapêutico individual e familiar
As influências familiares são um aspeto de grande interesse para sociólogos, antropólogos, empresários, psicólogos, entre outros, que se debruçam sobre a temática do processo de formação do indivíduo. Este é um processo atravessado pela herança psíquica intrafamiliar contemporânea e transgeracional que, por sua vez, faz fronteira com a sociedade e com a cultura. Ao colocar o foco no indivíduo, percebemos que na interioridade de cada um de nós se aninha um legado que nos enriquece, traz continuidade e pertencimento, mas também carrega o seu lado mais sombrio, cuja matéria, que permanece oculta em nossa memória, pode nos perturbar de várias maneiras, gerando efeitos diversos.
Nas histórias de família, com o passar das gerações, alguns traços de memória são perdidos, mascarados e deturpados. Esses conteúdos, se não forem elaborados, introduzem uma fratura perigosa, funcionando como armadilhas nas quais os traços de memória se escondem, as impressões traumáticas “desaparecem”, obscurecidas por “mecanismos” apropriados para viver o esquecimento. As consequências desencadeadas por essas tais defesas intrapsíquicas, que visam evitar o confronto e a resolução de conflitos entre os membros de uma família, são responsáveis pelo processo de separação, isolamento, fuga, indiferença ou negação da importância da família de origem. Tais camadas de emoções e vivências que permanecem ocultas transmitem a impossibilidade de uma perceção cognitiva e afetiva estável de si mesmo e das figuras relacionais mais significativas.
Segundo Whitaker e Bumberry (1990), o início da família acontece com a união de um casal que forma duas culturas e, consequentemente, dois contextos familiares, o que justifica a complexidade do conceito de família e a necessidade de vê-la inserida num contexto, para não anular sua particularidade.
Assim, a família deve ser vista como um todo interdependente, no qual a interação entre seus membros faz com que circule pelo sistema as
condições de saúde e de doença individuais. Desse modo, eventuais mudanças de comportamento de um membro afetam os demais e, assim, todas as unidades do sistema serão afetadas sucessivamente.
Esse facto está diretamente ligado ao nível de flexibilidade da família, ao interagir através de seus padrões relacionais. Se a forma como o sistema se encontra organizado só consegue suportar níveis mínimos de mudança, os seus membros passarão por intensos sofrimentos, permanentes ou momentâneos, devido ao engessamento do sistema.
Todavia, se não houver uma intervenção, com o intuito de identificar a dificuldade, esse engessamento poderá produzir padrões relacionais intensamente rígidos que se reproduzirão por gerações, eternizando a momentânea disfuncionalidade. Assim, se um padrão de relacionamento não for revisto pode permanecer por gerações, fazendo com que esta disfuncionalidade se torne automática e perpétua.
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