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A obesidade é uma resposta biológica ao meio ambiente moderno, uma doença que faz o corpo desregular para um ponto de ajuste de gordura corporal que é muito alto. Assim, para perdemos peso e não o recuperarmos, precisamos de uma forma de diminuir o nosso ponto de ajuste.
A cirurgia pode funcionar, mudando os sinais que regulam o ponto de ajuste da gordura corporal, permitindo que os pacientes sejam bem sucedidos ao perder peso, sem o recuperar de seguida.
Novos estudos mostram que certos tipos de cirurgia barátrica, nomeadamente o bypass gástrico e o sleeve gástrico, afetam os sinais entre o corpo e o cérebro para diminuir o apetite, aumentando a sensação de saciedade, aumentando o metabolismo e, até mesmo, estimulando a preferência por comida mais saudável.
A cirurgia é como uma “muleta” que nos ajuda a “caminhar mais depressa” no processo da perda de peso; no entanto, é necessário que a ela se juntem a dieta e o exercício físico. Ou seja, o esforço que muitas vezes fazemos com a dieta e o exercício físico, de forma isolada, e que têm resultados limitados e temporários (o efeito yo-yo das dietas), será recompensado se o aliarmos à cirurgia.
Estudos científicos comprovam que as pessoas com obesidade vivem menos do que as pessoas com peso normal. Existe uma diminuição cerca de 10 anos na esperança média de vida, nas pessoas com obesidade. Assim, a cirurgia de obesidade oferece a possibilidade de vivermos mais e com melhor qualidade de vida, ao diminuir a incidência de complicações e sequelas das patologias associadas à obesidade (enfartes, AVC’s, neoplasias, complicações da diabetes mellitus…).
Antes da cirurgia, todos os doentes devem ser submetidos uma adequada avaliação multidisciplinar (cirurgia, endocrinologia, nutrição e psicologia), pois, é importante excluir patologias endócrinas tratáveis (hipotiroidismo, síndrome de Cushing, entre outras), que podem ser responsáveis por 5 a 10% dos casos de obesidade. Por outro lado, a perda de peso, mesmo antes da cirurgia (através dum plano nutricional estruturado prescrito pela nutricionista), e o acompanhamento por psicologia (para o despiste de distúrbios alimentares, como o binge eating) são fatores que podem influenciar, de forma significativa, o sucesso após a cirurgia.
Nos pacientes com indicação para cirurgia, existem diferentes opções cirúrgicas, nomeadamente o bypass gástrico e a gastrectomia vertical ou sleeve gástrico. São cirurgias com resultados semelhantes, com preparação e pós-operatório muito idênticos, mas que poderão ter indicações e contra-indicações especificas diferentes. Alguns aspetos, nomeadamente a idade (extremos etários), o padrão alimentar (volume eater vs sweet eater), a história familiar de cancro gástrico, a diabetes mellitus tipo II, a doença de refluxo gastro-esofágico, a necessidade e o sucesso da erradicação do Helicobacter pylori (bactéria do estômago presente em cerca de 80% da população) constituem fatores importantes que deverão ser tidos em conta aquando da escolha do tipo de cirurgia a realizar.
Cirurgias mais radicais (derivações biliopancreáticas, como o duodenal switch ou o SADI-S) associam-se a uma maior perda de peso e a uma menor probabilidade de reganho de peso a longo prazo, mas têm uma maior incidência de efeitos laterais. Por outro lado, cirurgias menos radicais (sleeve gástrico) têm uma relativa menor perda de peso e uma maior possibilidade de reganho de peso, a longo prazo, mas apresentam uma menor probabilidade de efeitos laterais.
O bypass gástrico é considerado o gold standard no tratamento cirúrgico da obesidade, pois é uma cirurgia mais “equilibrada”, se tivermos em conta a relação risco / benefício, (com boa perda de peso, reduzida probabilidade de reganho de peso, a longo prazo, e uma taxa de efeitos laterais relativamente baixa, embora ligeiramente superior à do sleeve gástrico).
Após este período, o organismo como que se “adapta” às alterações que provocamos no tubo digestivo com a cirurgia de obesidade; é a partir desta altura que poderá haver o risco de reganhar peso, sendo fundamental a alteração do estilo de vida.
Tal como noutras patologias crónicas, como a doença cardíaca ou o cancro, quanto mais cedo se tratar a obesidade, e as suas consequências metabólicas, melhor serão os resultados obtidos. Se for tratada numa fase precoce, a perda de peso torna-se mais fácil, a taxa de cura/remissão das patologias associadas (diabetes, hipertensão arterial, dislipidemia, apneia do sono) é maior e ganham-se anos de vida.
Em suma, embora o sucesso da cirurgia dependa da dedicação da equipa multidisciplinar, da experiência do cirurgião, da escolha adequada e qualidade da cirurgia, quem tem um papel fundamental neste processo é, sem dúvida, o paciente!
Podemos fazer a cirurgia perfeita, mas se o doente não colaborar nem se empenhar os resultados ficarão aquém do esperado. Por isso, é muito importante interiorizar e “seguir” estes “10 Mandamentos”, como guia, para obtermos os melhores resultados com a cirurgia da obesidade.
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