Pandemia escolhas e mudança
A pandemia por SARS-CoV-2 alterou de modo indelével a vida de todos nós: passou a polarizar notícias e temas de conversa, determinou o fecho prolongado de diversas actividades de bem-estar e condicionou o modo como nos relacionamos como seres humanos, trocando o analógico da proximidade e toque para o digital do ecrã.
Mas se o contexto infeccioso nos obrigou a repensar e refazer hábitos em prol do achatamento da curva de novos casos, o confinamento de longa duração pode ter sido catalisador de várias mudanças nefastas, entre elas:
› opções alimentares menos saudáveis (podendo condicionar ganho de peso);
› sedentarismo;
› intensificação de consumo de tabaco ou álcool;
› incremento/iniciação do jogo online;
› perda de adesão à medicação crónica.
Por outro lado, dados nacionais destacam que os sintomas de Depressão, Ansiedade e de Stress Pós-traumático são mais prevalentes em comparação com o período pré-pandémico.
Se a psicoeducação e a psicoterapia são pedra de toque na abordagem destas doenças, a mudança comportamental, incluindo a adopção de estilos de vida saudáveis, requer outras ferramentas, como a entrevista motivacional.
Em que consiste? É técnica de aconselhamento directivo centrado na pessoa, i.e., o clínico auxilia o utente a ser o seu próprio agente de mudança. Assenta no Modelo Transteórico de Prochaska e DiClemente e é constituído por várias etapas plásticas interpoladas:
› pré-contemplação – sem intenção de mudar;
› contemplação – ambivalência, ou seja, simultaneamente, querer e não querer mudar;
› preparação – intenção de mudar;
› acção – modificação activa de comportamento;
› manutenção – sustentabilidade dos novos hábitos;
› recaída – regresso a hábitos anteriores.
Tem evidência na obtenção de vários resultados em saúde, como na redução do índice de massa corporal, do consumo de bebidas alcoólicas, da tensão arterial sistólica e do colesterol total. É amplamente utilizada, em conjunto com outras técnicas comportamentais, na consulta de cessação tabágica e utilizada em vários contextos clínicos, como nas consultas de Medicina Geral e Familiar, Nutrição, Psiquiatria e na Psicologia.
(NB: o autor escreve pela antiga ortografia.)
Referências bibliográficas
1. Almeida T, Heitor M, Santos O, Alexandra C, Virgolino A, Rasga C, et al. Relatório final: SM-COVID19 – Saúde mental em tempos de pandemia 2 AUTORES. Lisboa; 2020.
2. Rubak S, Sandbæk A, Lauritzen T, Christensen B. Motivational interviewing: A systematic review and meta-analysis. Br J Gen Pract. 2005;55(513):305–12.
3. Lindson N, Thompson TP, Ferrey A, Lambert JD, Aveyard P. Motivational interviewing for smoking cessation. Cochrane Database Syst Rev.
2019;2019(7).
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