Prematuridade – Seguimento e prognóstico

Tem havido um aumento drástico na sobrevivência e no prognóstico global dos bebés prematuros nas últimas décadas. No entanto, problemas como o atraso no desenvolvimento, paralisia cerebral, problemas visuais e auditivos, défice de atenção e hiperatividade, e distúrbios de aprendizagem ainda ocorrem com mais frequência nestes recém-nascidos.
De um modo geral, a sobrevivência é, de facto, rara nos nascidos com menos de 23 semanas de gestação. É possível que o bebé com 23 – 24 semanas sobreviva, mas a probabilidade de ter um um desenvolvimento anormal é elevada. O prognóstico é bom, na maioria dos bebés nascidos com mais de 27 semanas.

Prevenção

O seguimento regular da grávida é crucial, informando-a sobre as causas conhecidadas da prematuridade, tais como o tabaco, o consumo de alcoól e de drogas ilicitas. Mesmo assim, não é possível evitar todos os problemas de saúde que aumentam o risco de prematuridade. Se a grávida entrar em trabalho de parto prematuramente, ou se houver rotura da bolsa de águas, deve entrar imediatamente em contacto com o seu obstetra.
As  técnicas de reprodução medicamente assistida  podem resultar em gravidez múltipla, sendo o risco de ocorrer um parto prematuro significativamente maior nestas gravidezes. Os pais têm de ser informados desta possível complicação.

Alta dos serviços de Neonatologia

De um modo geral, o bebé prematuro tem alta se estiver estável e a aumentar regularmente de peso.
A maioria poderá ir para casa quando completar 35 a 37 semanas de idade gestacional e pesar entre 2,0 e 2,5 quilogramas. Deve sair da unidade em cadeira de transporte, após realizar “o teste da cadeirinha”, para confirmar que está estável para a viagem. A viagem não deve durar mais de 1 hora; se for necessário parar aos 45-60 minutos.
No momento da alta, leva todas as indicações para o seguimento multidisciplinar na consulta, orientações sobre a alimentação, conselhos sobre a posição de barriga para cima no berço (protetora de sindrome da morte súbita, que é mais frequente nestes bebés) e conselhos sobre evição de infeções respiratórias, bem como a evição de ambientes poluidos.

Situação em Portugal

Em Portugal, 9 em cada 100 bebés nascem com menos de 37 semanas de gestação e 1% dos recém-nascidos tem menos de 32 semanas de idade gestacional, o que equivale a cerca de 800 por ano. Estas crianças poderão vir a ter problemas específicos que exigem apoios especializados, necessitando de equipas multidisciplinares no seu seguimento.

Cuidados centrados no desenvolvimento e na família

Recentemente, as unidades de cuidados intensivos neonatais procuram adotar uma metodologia de cuidar estes bebés que tem mostrado ser uma mais valia a curto, médio e longo prazo no desenvolvimento destes bebés, e que se baseia nos cuidados centrados no desenvolvimento e na família.
É uma forma integrada e holística dos cuidados de desenvolvimento centrados no doente e na família. São também chamados cuidados individualizados para o desenvolvimento e, por isso, não obedecem a um protocolo, mas sim a linhas de orientação para cada recém-nascido. Sabemos que o que funciona bem para um bebé pode não funcionar para outro, e o que hoje se adequa a um bebé, pode, no dia seguinte, não se adequar.
Os profissionais devem a cada momento saber interpretar os sinais dos recém-nascidos para orientar os cuidados, sendo fundamental a formação dos mesmos nesta área do conhecimento, dado que a observação cuidada é a chave para entender o comportamento do bebé, conduzindo à correcta adequação dos cuidados aos sinais que ele apresenta.
No útero, o feto espera e recebe estímulos cutâneos e químicos do líquido amniótico, o útero ajuda o feto a manter a sua postura fetal, o saco e líquidos amnióticos facilitam o desenvolvimento motor e o feto tem movimentos mais suaves e mais modulados. Também o ritmo circadiano e o estado emocional da mãe influenciam o comportamento do feto.
Após o nascimento, os prematuros, principalmente os grandes prematuros, estão sujeitos a desafios inesperados para o seu cérebro imaturo, durante este período extremamente vulnerável do desenvolvimento cerebral. As experiências sensoriais nas unidades de cuidados intensivos são muito negativas para o desenvolvimento cerebral, nomeadamente, no que se refere ao ambiente (exposição à luz, ao ruído) e às intervenções que, frequentemente, são dolorosas, factos que se associam à diminuição das experiências positivas que perderam com o nascimento prematuro. Todos estes conhecimentos devem ser tidos em conta diariamente pelos profissionais de saúde que cuidam estes recém-nascidos nas unidades.
Procura-se minimizar o impacto no cérebro imaturo de todas estas influêcias negativas e, ao mesmo tempo, promovendo ou facilitando os aspetos que o influenciam favoravelmente, poder melhorar o desenvolvimento do cérebro e, consequentemente, os resultados a médio e longo prazo.
O respeito pelo recém-nascido e pela família, na sua diversidade, salientando os pontos fortes, ser honesto nas informações, colaborar com a família em todos os aspetos de que ela necessitar, favorecer o aleitamento materno, o contacto pele com pele e a parceria de cuidados, promover seminários de educação para pais e família, facilitar as atividades de apoio de pais para pais, a presença ilimitada dos pais nas unidades, a participação dos pais nos cuidados e na tomada de decisão, a participação nas visitas médicas, a transição para a alta e os cuidados no domicílio, o apoio de populações específicas, são aspetos que integram esta filosofia.

Hoje em dia, esta forma de cuidar deve ser otimizada, reconhecendo que cada recém-nascido é um ser humano integrado numa família.

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