Tendinites do punho e da mão: quando os tendões estão doentes

A mão é o instrumento de interação com o mundo que nos rodeia, por excelência. Com as nossas mãos trabalhamos, socializamos, defendemo-nos. Não é, pois, de estranhar que quando a função está afetada, haja uma perda da capacidade dessa interação e, consequentemente, da qualidade de vida.

As tendinites (ou talvez, de forma mais lata e correta, as tendinopatias) do punho e da mão são, porventura, a causa mais frequente de perda de função e de motivo de consulta a um cirurgião da mão.

O que é uma tendinopatia?

A tendinopatia abrange um conjunto de condições patológicas do tendão ou das estruturas que o envolvem, e que comprometem o seu desempenho, seja por dor, seja por perda de capacidade funcional. No dia-a-dia, são vulgarmente designadas por tenossinovites ou tendinites.

Como surgem as tendinopatias?

Frequentemente, durante o trajeto que o tendão faz desde o músculo até ao osso que se compromete a mexer, há estreitamento de determinadas zonas por onde o tendão passa, o que leva à sua disfunção. Há canais fibrosos que, em situações normais, atuam como autênticas presilhas, impondo o fulcro necessário para que o tendão funcione, apesar das angulações a que é sujeito durante o seu percurso. Se o calibre desses canais se faz diminuir, criam-se condições para o tendão ficar preso, deixando de deslizar de forma harmoniosa e sem dor. É o que acontece na Tendinite de Quervain e no Dedo em Mola, as mais frequentes no punho e na mão, respetivamente. São as chamadas tendinopatias estenosantes. Por serem as mais frequentes, é nestas tendinopatias estenosantes que nos vamos concentrar.

Há outras tendinopatias muito menos frequentes, que estão relacionadas com doenças inflamatórias sistémicas (a mais conhecida é a artrite reumatoide), infeção ou depósito de substâncias, tais como o cálcio e o ácido úrico. Estas designam-se por tendinopatias inflamatórias e são raras.

Qualquer pessoa pode desenvolver uma tendinopatia estenosante?

Verdade. Mas há determinados grupos de pessoas mais vezes afetados. A Tendinite de Quervain é mais frequente no género feminino, e entre os 30 e os 50 anos. O Dedo em Mola é também visto mais vezes no género feminino e tem o seu pico de ocorrência entre os 50 e os 60 anos de idade. É mais frequente nos diabéticos.

A literatura médica é abundante na enumeração de fatores de risco que predispõem ao desenvolvimento de tendinopatias estenosantes. Por exemplo, o período pós-parto e o contexto pós-trauma surgem associados ao desenvolvimento da Tendinite de Quervain, bem como os movimentos de repetição com o punho (overuse), como acontece, por exemplo, nos desportos de raquete ou bastão. No entanto, não nos esqueçamos que também aqui, e tal como acontece na grande maioria das doenças, a causa é multifactorial, não se podendo atribuir o surgimento de determinado processo patológico a um fator único.

Como se manifesta a doença?

A dor no bordo radial do punho (região do punho que está na continuidade do polegar) é caraterística da Tendinopatia de Quervain, A instalação é insidiosa, agravando-se com o levantar de cargas e com o ato de agarrar objetos. Por vezes, é possível identificar-se uma pequena tumefação ou quisto no local das queixas.

O ressalto (ou click) é típico e dá nome ao Dedo em Mola. Nos casos mais avançados da doença, o dedo pode ficar bloqueado, perdendo a capacidade de se esticar ou fletir. Dor ao mobilizar o dedo ou um nódulo palpável na palma da mão, na continuidade do dedo afetado estão habitualmente presentes.

O que é que pode ser feito como tratamento?

Há várias formas de abordar a doença tendinosa estenosante, mas, geralmente, numa primeira abordagem deve optar-se por medidas conservadoras.

A imobilização temporária com uma tala amovível do punho pode ser útil para aliviar as fases de agudização das queixas na Tendinopatia de Quervain. No entanto, este tipo de tratamento é pouco eficaz a médio prazo. A injeção de corticoide no punho afetado apresenta uma taxa de sucesso razoável. As complicações são raras e, associando-se um fármaco anestésico ao preparado a infiltrar, o procedimento é praticamente indolor. Nos casos refractários à infiltração, o passo seguinte é a cirurgia. A técnica cirúrgica é simples e de execução rápida, com uma incisão cirúrgica de aproximadamente 2 cm de comprimento. Regra geral, os doentes regressam ao seu nível de atividade habitual a partir das 6 semanas pós-operatórias.

No caso do Dedo em Mola, a infiltração apresenta uma taxa de sucesso elevada, particularmente nos doentes não diabéticos e com sintomas de instalação recente. Quando a infiltração é ineficaz, avança-se para a cirurgia. A técnica cirúrgica é também ela simples e de execução rápida, com uma incisão cirúrgica de aproximadamente 1 cm de comprimento. A maioria dos doentes (incluindo os trabalhadores manuais) está a desempenhar a sua atividade profissional até ao mês pós-operatório e, por norma, não é necessário associar fisioterapia.

No que se refere ao tratamento, não há uma fórmula única que funcione com todos os doentes. Muitas vezes, é preciso reformular o plano delineado à medida que se avança e de acordo com aquilo que são as expectativas de cada um.

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